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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Dia 23. Em busca do pôr-do-sol



Domingo, 24 de agosto de 2014.
De Cruz das Almas/BA a Arraial d’Ajuda/BA (567 km).

Corra. Corra. Será que vai dar tempo de chegar a tempo de ver o pôr do sol? No fim do dia contratei um mototáxi e foi aquela correria pelas ruas de Arraial d’Ajuda/BA. Vai por aqui, vai por ali e nada de avistar o horizonte. Este é o relato de mais um dia na Expedição Litoral Nordestino, uma viagem de moto que realizei sozinho pelo nordeste brasileiro durante o mês de agosto de 2014. Belíssimas paisagens foram vistas e muitas experiências foram vividas: da calmaria de um encantador pôr do sol em Jericoacoara/CE à fuga alucinada, na calada da noite, em Petrolina/PE... fortes emoções foram vivenciadas. Continue lendo para acompanhar a viagem.

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim. - Chico Xavier



Trajeto do dia

Trajeto de Cruz das Almas/BA a Arraial d’Ajuda/BA.
Trajeto de Cruz das Almas/BA a Arraial d’Ajuda/BA.

Um bom começo

De manhã cedo, ao espiar pela janela, vi que o tempo não estava nada bom. O céu bastante nublado, o chão molhado e uma leve garoa davam sinais de que eu deveria sair de viagem vestido com a capa de chuva.

Às 7h30, pouco tempo após acordar, já manobrava a moto no estacionamento do hotel, posicionando-a para a partida.


Garagem do hotel em Cruz das Almas/BA.
Garagem do hotel em Cruz das Almas/BA.
Como havia pernoitado em um hotel localizado apenas uma quadra de distância da avenida que me guiaria diretamente para fora da cidade, então, foi fácil alcançar a estrada e retomar o curso da viagem.


Deixando a cidade de Cruz das Almas/BA.
Deixando a cidade de Cruz das Almas/BA.
O início do trajeto foi regado a cautela por causa do chão escorregadio. À medida que avançava, para a minha felicidade, o tempo foi melhorando, contudo, o calor ia aumentando na mesma proporção. O lado bom foi que o céu permaneceu com muitas nuvens durante a maior parte do trajeto, permitindo uma sensação térmica não tão sufocante. Além disso, era de se admirar a bela paisagem que presenciei pelo caminho, com uma vegetação densa, alta e de terreno com formações mais montanhosas.

BR-101 depois da chuva.
BR-101 depois da chuva.

Passando pelo corredor de árvores.
Passando pelo corredor de árvores.

Tempo melhorando na BR-101.
Tempo melhorando na BR-101.

Bela paisagem de estrada na BR-101.
Bela paisagem de estrada na BR-101.

Algum ponto da BR-101.
Algum ponto da BR-101.

BR-101. Espírito Santo
BR-101. Espírito Santo

BR-101. Espírito Santo. Bela paisagem.
BR-101. Espírito Santo. Bela paisagem.

A fome apertou

Prorroguei um pouco o horário do almoço e deixei a fome esperando até que num certo ponto da estrada, lá pelas 12h, terminei por parar, mas, não para almoçar. Precisei esperar uns vinte minutos na fila de carros existente em um local onde a estrada estava em manutenção.


Congestionamento da BR-101. Manutenção da estrada.
Congestionamento da BR-101. Manutenção da estrada.
Logo após sermos liberados encontrei um posto de abastecimento onde ambos pudemos matar a fome: eu, de carboidratos e proteínas, e a moto, de gasolina.


Parada para almoçar.
Parada para almoçar.
De barriga e tanque cheios, a viagem seguiu calma e tranquila até Arraial d’Ajuda/BA, onde cheguei por volta das 16h. Antes, porém, é valido informar que ao deixar a BR-101 e entrar na BR-367/BA-001, encontrei uma estrada não muito conservada, sem nenhuma sinalização e com vários buracos.

O sol já estava mais perto do horizonte e as árvores, por diversas vezes, faziam sombra na estrada camuflando e escondendo alguns buracos. Consequentemente, em alguns momentos, fui obrigado a trafegar mais devagar a fim de poder ver antecipadamente as irregularidades e poder ter um tempo de reação maior.


BR-101. Espírito Santo.
BR-101. Espírito Santo.

Bela passagem de estrada.
Bela passagem de estrada.

Animais se refrescando do calor na BR-101.
Animais se refrescando do calor na BR-101.

Desviando de buracos pela contra-mão.
Desviando de buracos pela contra-mão.

Curva guiada pelas árvores.
Curva guiada pelas árvores.

Caçando um hotel para ficar

Inicialmente planejara ficar em Trancoso/BA, apenas 20 km distante de Arraial d'Ajuda/BA. Entretanto, por indicação de alguns parentes, que já haviam passado férias na região e sob a alegação de que em Trancoso/BA o custo de hospedagem é bem mais alto, então, optei por pernoitar em Arraial d’Ajuda/BA.


Chegando em Arraial d'Ajuda/BA.
Chegando em Arraial d'Ajuda/BA.
Assim que cheguei ao centro da cidade, na praça principal, parei em um ponto de táxi para me informar a respeito de alguma pousada barata e sobre passeios que pudesse realizar no dia seguinte. O taxista com quem conversei trabalhava para uma agência e também me deu algumas explicações acerca dos itinerários clássicos que poderiam ser feitos pela região.


Contornando a praça central em Arraial d'Ajuda/BA.
Contornando a praça central em Arraial d'Ajuda/BA.
Em seguida, fui até a pousada recomendada e pelo bom preço, localização e conforto terminei optando por ficar. Ali mesmo, no guichê de recepção, já procurei saber se a pousada tinha contacto com alguma agência de turismo para que pudesse me adiantar e tentar reservar passeios para o dia seguinte. O funcionário, muito solícito, se comprometeu a realizar os telefonemas necessários e finalizou dizendo que a praia do espelho seria um ótimo lugar para conhecer.


Caçando um belo pôr-do-sol

Terminadas as tratativas para o dia seguinte, faltava uma última atividade a ser realizada antes que a claridade do dia se ausentasse: como de costume, seria ver o pôr-do-sol. Como em várias outras ocasiões, não poderia deixar de ir à caça desse sempre imperdível espetáculo da natureza.

Então, logo depois quis saber do funcionário onde poderia alcançar um ponto de observação na cidade para observar o entardecer. Achei meio complicado o caminho, que ele me explicou, dessa forma, desisti de ir sozinho e perguntei se havia um mototáxi que poderia me levar até lá. Consequentemente, respondeu que sim e eu, sem pestanejar, pedi que contratasse a carona.

Enquanto isso, subi ao quarto para me acomodar e tomar um banho relâmpago. Consequentemente, descarreguei da moto apenas o baú onde estavam as roupas para não demorar muito.

Algum tempo depois, quando deixei o quarto, vi que o mototáxi já me esperava na recepção. Para minha surpresa, o recepcionista também informou-me que já tinha conseguido agendar o passeio que eu queria, mas, também disse que não daria para conciliar mais de um passeio no mesmo dia, pois, não daria tempo. Mesmo assim terminei por confirmar minha presença.

— Tudo pronto? Vamos pegar esse pôr do sol. – falei ao mototáxi em tom de convocação para partirmos.


De carona para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.
De carona para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.
Estava animado para o momento e o motorista – tão ágil que era, mas, não insano – foi virando esquerda aqui, direita ali, até sair da rua de calçamento e avançar por uma estrada de terra. Ou melhor, de barro.

— Puxa vida! Já tomei banho. – pensei. 

— Não têm problema, eu tomo outro. – truquei.


Pegando trilhas para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.
Pegando trilhas para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.

Enfrentando barro para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.
Enfrentando barro para ver o pôr-do-sol em Arraial d'Ajuda/BA.
Assim, depois de um rali por aquela estrada enlameada, chegamos em uma área de condomínio, um tanto mais afastada da cidade, onde terra e barro já haviam sido deixados para trás. A partir dali já não era mais possível continuar avançando. Era o fim da linha.


Rua sem saída em Arraial d'Ajuda/BA.
Rua sem saída em Arraial d'Ajuda/BA.
Desci da moto, olhei bem para frente. Cerrei um pouco as pálpebras como quem se esforça, ao máximo, para encontrar o que procura, mas, nada de achar o sol se pondo no horizonte. Olhei para um lado, olhei para outro... e, novamente, sem encontrá-lo, logo pensei ter havido algum acidente de proporções galácticas que o tivesse feito escorregar abruptamente horizonte afora, mesmo que cinco minutos atrás eu ainda o observasse em altura relevante me fazendo pensar que chegaria a tempo do espetáculo do alvorecer.

Entretanto, enquanto minhas esperanças já iam se esvaindo por completo, voltei a fronte para trás, para o lado de onde havíamos chegado e...

— Óhhh! Lá está ele. É lá que precisamos ir. – e chamei a atenção do mototáxi apontando para a direção do grande astro.


É para lá que temos que ir para ver o pôr-do-sol.
É para lá que temos que ir para ver o pôr-do-sol.
Para ser sincero, enquanto o motorista pilotava a moto achei estranho o fato de ter ido, justamente, para o lado contrário ao do sol. Contudo, pensei que aquele fosse o único caminho e ele teria que contornar a mata para chegarmos ao ponto definitivo de observação. Por fim, fiquei em dúvida se ele não havia entendido direito o que eu queria, ou se eu é que não me expressei com clareza na hora de pedir. Paciência! E partimos apressados, novamente.


Xiii! Não vai dar tempo de ver o pôr-do-sol.
Em mais uma tentativa desesperada voltamos pelo mesmo caminho por onde passamos antes: a mata, o barro, a muvuca na praça principal... até encostarmos na beirada do passeio de uma longa avenida que pouco distante dali, mais à frente, contornava um pequeno monte.

— É lá! É lá! Atrás daquele monte. Vamos. – disse eu, numa espécie de limbo entre a empolgação estimulada por experiências passadas e o alerta soado pela razão tentando fazer-me perceber que já não mais haveria tempo hábil para presenciar, sequer, o final do espetáculo. Por fim, daquele ponto não avançamos. 

— Ahhh! Só me segurou o fato de ser outro a dirigir, pois, sendo eu a conduzir essa motoneta, avançaria mata adentro, ceifando árvores e abrindo picadas por onde passasse, mirando o cume. - esbravejei rebelde e silenciosamente comigo mesmo.


Em busca do pôr-do-sol.
Em busca do pôr-do-sol.
Cessada a choradeira e recuperada a sanidade, quando voltamos pedi a ele que me deixasse na rua mais badalada da cidade, a Rua do Mucugê, para que eu pudesse fazer uma caminhada e ver o movimento.


Uma volta pelo centro de Arraial D' Ajuda/BA.
Uma volta pelo centro de Arraial D' Ajuda/BA.
Depois, tomei um sorvete, comprei um lanche e retornei para o hotel.


Hotel em Arraial D'Ajuda/BA.
Hotel em Arraial D'Ajuda/BA.




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