Translate to your language

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dia 19. Um banco de areia em alto mar



Quarta-feira, 20 de agosto de 2014.
De Porto de Galinhas/PE a Maragogi/AL (86 km).

Um confortável banho de mar nas águas mornas e calmas de Maragogi, em Alagoas, foi a atividade principal numa tarde de céu nublado e instável. Este é o relato de mais um dia na Expedição Litoral Nordestino, uma viagem de moto que realizei sozinho pelo nordeste brasileiro durante o mês de agosto de 2014. Belíssimas paisagens foram vistas e muitas experiências foram vividas: da calmaria de um encantador pôr do sol em Jericoacoara/CE à fuga alucinada, na calada da noite, em Petrolina/PE... fortes emoções foram vivenciadas. Continue lendo para acompanhar a viagem.

A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
- Friedrich Nietzsche

Trajeto do dia


Com água até o joelho

Vez ou outra, quando estou em uma conversa onde a pauta são os passeios de férias realizados na beira da praia, entre outros casos, sempre surge alguma prosa a respeito de até onde cada um acha mais prudente avançar mar adentro para se banhar.

Alguns dizem que vão adiante até onde os pés já não mais alcançam o chão; outros, que a água pouco além da cintura é o seu limite; há ainda quem diga que gosta de praia, mas, que prefere ficar em terra firme apenas relaxando e apreciando a paisagem.

Quanto a mim, sempre tive medo (respeito) do mar e assim que chega minha vez de falar, não posso deixar as pessoas ficarem pensando que “não sou de nada” e, então, digo que sou “o cara”, salva-vidas profissional, que entro no mar mesmo e vou indo... vou indo...  e vou indo até alguém gritar — “Já chega! Calma aí rapaz”... Assim, quando a água começa a bater no joelho eu paro e não avanço mais. Pensam que sou bobo?

A partir desse ponto minha imaginação começa a ficar fértil demais. Vai que tem um buraco bem perto que me fará pisar em falso e afundar de repente. E a correnteza? E se encontrar um ponto de forte correnteza e ela começar a me arrastar para longe da praia. Tudo bem, reconheço que uma corredeira dessas, batendo ali no joelho, só vai existir lá no rio Iguaçu, depois das quedas d’água da “Garganta do Diabo”, mas, enfim... dessa vez eu convenço: e os tubarões?

— Puxa vida! Com a água na altura da canela “manezão? Tenha dó.” – alguém repreenderia.

Ora, por gentileza, leitor, não ria, cada um com seus problemas. Deixe-me só escutar alguns dos seus casos e vou rir até você ficar com vergonha também.

Sem mais rodeios, poderiam indagar-me o motivo desse assunto por agora. Responderia que é porque as atividades do dia fizeram-me lembrar dessas histórias.


Deve ser gasolina ruim

Para não perder o costume, vamos do início... às 6hs da matina. Esse foi o horário que o despertador tocou. A música Highway to Hell, da banda de rock AC/DC, era sempre o tema do despertar, por nenhuma razão específica, apenas por ser simplesmente um bom rock e o ritmo da música, ao menos para mim, contagiante, de chacoalhar o esqueleto. Sugiro, leitor, mesmo que não goste muito desse tipo de gênero musical, que ouça um pedaço. Vai ver que não estou dizendo balelas.



Era para ter tomado café e saído meia hora depois de acordado, haja vista que a bagagem já estava totalmente organizada desde a noite passada, porém, ao tentar ligar a moto ela apresentou o mesmo problema percebido no fim do dia anterior. Ou seja, acionava o botão de partida, ela “engasgava” e não ligava.

— E agora? – pensei.

Infelizmente, teria que esperar até o horário do comércio abrir para procurar um mecânico que pudesse verificar o problema. No fundo, ainda tinha esperança de que a causa fosse gasolina de má qualidade, colocada no dia anterior. Esperei um tempo mais e, antes de iniciar a procura por ajuda, insisti novamente em dar a partida na moto. Pegou! Ou melhor, ligou. Na primeira tentativa. Maravilha!

Mantive o acelerador tracionado para esquentá-la um pouco e ao retorná-lo para a posição de descanso ela, sem titubear, desligou novamente. Em outras tentativas observei que quando deixava o “giro” do motor ficar em rotação mais baixa, ela teimava em desligar de repente.


Vou "pagar para ver"

Sem mais enrolação, decidi armar a bagagem e partir com a moto assim mesmo. Estava convencido de ser gasolina ruim. De outra maneira, “pagaria para ver”. Tinha em mente ir conduzindo a moto com o motor em rotação mais alta, sem deixá-la morrer, até que pudesse abastecer novamente e “tirar a prova” de minha teoria. Obviamente que antes de deixar o hotel pedi à recepcionista o telefone de algum serviço de guincho para o caso de precisar ligar e pedir ajuda na estrada. Para minha alegria ela conseguiu encontrar o telefone de alguém.




Então, “pé na estrada” e tão logo parti... parei novamente, não por problemas mecânicos, mas, para registrar o momento em que dois arco-íris se faziam presentes no céu nublado.



Continuando a viagem, num piscar de olhos já me embrenhava nas ruas estreitas de Maragogi/AL, pedindo informações sobre como chegar na avenida que margeia a praia.




Boas risadas

Diferentemente das atividades habituais, nessa cidade não liguei para nenhuma das pousadas que havia pesquisado anteriormente. Preferi bater de porta em porta perguntando a respeito dos preços e se havia vaga. Vi diversos hotéis e pousadas na avenida da praia e terminei por achar vaga em um hotel com bom custo-benefício.

Nesse não havia estacionamento, mas, o funcionário falou que poderia guardar a moto num pequeno espaço nos fundos do hotel, em meio a um amontoado de tralhas e entulho de reforma. Quase não havia vagas e o quarto que escolhi (do tipo single, mais barato) só estaria liberado a partir do meio-dia.

O que faria nesse intervalo de tempo até a hora do almoço? Dar uma volta na praia para apreciar a paisagem? Pesquisar agências de turismo e contratar algum passeio? Não, nenhuma das alternativas. Fui procurar uma costureira. Minhas luvas já estavam bastante usadas e com o tempo e manuseio a costura dos dedos começou a se desfazer.

Consequentemente, precisava encontrar alguém que pudesse consertá-las ou, pelo menos, remendá-las. Andando um pouco pelo centro do vilarejo, terminei por encontrar uma pequena loja de conserto de sofás e forros de cadeira.

— Tenho certeza de que aí tem corte e costura! – sussurrei.

Dito e feito. Falei com o dono do estabelecimento e imediatamente ele começou trançar agulha e linha pelos dedos da luva para endireitá-la. Deviam ser umas 9h. Havia tomado café de manhã bem cedo e já estava com fome outra vez.

Enquanto esperava apareceu o danado do ajudante do costureiro. Danado sim porque carregava consigo, em uma das mãos, uma dessas caixinhas de leite achocolatado, e na outra, um grande e rechonchudo pastel de carne. Como criança vendo alguém comer doce ou alguma coisa gostosa... fiquei com vontade também e bradei alto, esfomeado que estava nesse momento (e com essas palavras, transcritas fielmente):

— Ô rapaz, você fica comendo essas coisas na frente de criança... eu quero um desses também, igualzinho.

Depois disso, três gargalhadas: a minha, acompanhada do roncado do meu estômago, que mais pareceu com o rugido de um tigre; a do costureiro, segurando agulha e linha nas mãos e tentando, agora desconcentrado, enfiar a linha pelo fino buraco da agulha; e a do ajudante do costureiro, de boca cheia, erguendo a mão que segurava o pastel para mostrar-me a direção do pasteleiro.

Sem perder tempo, saí logo dali e avisei que voltaria daí a pouco, pois, além da fome, ainda atrapalhava o trabalho do costureiro... e do jeito que a coisa andava, o ajudante do costureiro terminaria se engasgando com a comida.


Procurando um passeio

Paguei apenas R$10,00 pelo serviço de costura e, de barriga cheia, voltei ao hotel. Dessa vez, o funcionário recomendou-me uma agência de turismo localizada na rua ao lado. Minha intenção era contratar algum passeio para conhecer Maragogi/AL, de preferência, as tão famosas piscinas naturais que por ali se poderia encontrar.



Frustrou-me o funcionário da agência quando disse que o passeio às piscinas naturais partira de manhã bem cedo – melhor horário para apreciá-las, devido à baixa elevação da maré – e que por ora ainda não havia ninguém para me fazer companhia em outro passeio cujo itinerário percorria, por mar, as praias próximas.

Por fim, deixei-lhe a incumbência de me avisar e incluir no primeiro passeio que surgisse dali para frente. Meu nome, bem como o hotel onde estaria hospedado, ficou registrado na lista de espera..

Por volta das 11h retornei ao hotel para verificar se já poderia entrar no quarto contratado. Dei com a “cara” na porta e soube que o hóspede atual nem mesmo tinham feito o check-out. Em seguida, obviamente, os funcionários ainda teriam que realizar a limpeza do quarto antes de o liberarem definitivamente.

Depois dessa notícia, o preço que inicialmente havia combinado para o quarto ficou mais caro porque, sem mais paciência para esperar, abandonei o apartamento “single” e parti para o quarto de casal, ou seja, mudei de ideia e contratei um quarto mais caro para poder ter a comodidade de entrar naquele momento.

Assim, já acomodado, enquanto esperava noticias a respeito de algum passeio, aproveitei para atualizar as informações no meu diário de viagem que estava sem registro a dois dias.

Lá pelas 12h resolvi sair para almoçar e quando voltei avisaram-me que o funcionário da agência de turismo tentara contatar-me, por duas vezes, para informar que meu lugar estava reservado num barco que zarparia às 14h30. Fui logo confirmar minha presença.


Conhecendo a orla de Maragogi/AL

Muito bem, no horário marcado me dirigi ao local combinado, longe demais de onde eu estava. Pensei que seria mais fácil, pois, precisei atravessar toda a distância de 5 metros, até o outro lado da rua, para chegar no bar-restaurante em frente ao hotel. Ali era o ponto de encontro e mais adiante, ancorado no mar, a lancha que nos levaria. Paguei, ali mesmo, R$60,00 pelo passeio contratado.

Enquanto esperávamos os outros integrantes chegarem, fui tirar algumas fotos.




Estava sentado em uma das cadeiras na beirada da praia quando veio o “capitão” gritando para todos que a embarcação já estava para partir e que ocupássemos os nossos lugares.

Pela distância em que o barco estava percebi que a água chegaria até por volta da cintura. Conclui que seria fácil, então. O mar estava relativamente calmo, porém, ao longo do caminho diversas ondas insistiram em tentar me “dar um caldo” e me arrastar de volta para a praia. Algumas delas chegavam até a altura do ombro. Já bem perto do barco, foi por pouco que não fui levado pela última.




“Levar um caldo” é uma expressão usada pelos surfistas quando dão de frente com uma onda que os derruba e os arrasta desastrosamente de volta para a praia.

Enfim, todos conseguiram subir a bordo sem maiores complicações.



Com tudo pronto e todos em seus postos, o marinheiro recolheu a âncora e lançou-nos mar adentro.



Fomos navegando devagar, perto da praia. Em determinados pontos o guia parava a lancha para nos chamar atenção sobre algo em terra firme, geralmente, dizia que uma era a casa de fulano de tal, a outra de beltrano e assim por diante...



Apreciava a bela paisagem pelo caminho.





Não pule de cabeça

... Até que paramos de repente em um ponto mais afastado da praia.



— Minha nossa! Será que o barco pifou? – poderíamos pensar.

Não era bem isso. Era hora da diversão. Estávamos todos prontos para mergulhar no mar, segundo anunciou o marinheiro. Antes disso, porém, um grito:

— Ninguém pula de cabeça! – berrou o “capitão”, pois, em alguns lugares a água mal passava da cintura. Assim, cautelosamente, entramos todos no mar.



Mesmo estando em um banco de areia e com a água batendo por volta da cintura confesso que, para mim, me causa sempre uma sensação estranha o fato de estar em mar aberto, talvez, por não ter muito costume de frequentar esse tipo de ambiente, de nadar no mar.

Como me referi no início do relato, tenho um medo danado (imaginário ou não, tanto faz) de tubarões. Sempre penso que poderá haver algum à espreita. De qualquer maneira, apesar da imaginação, tento sempre me policiar e não deixar que meus medos controlem minhas atividades e estraguem a diversão. Como exemplo posso citar aquele dia, em Pipa/RN, onde também nadamos no mar, em um ponto que era mais afastado da praia. E ali, naquele lugar, realmente havia alguns metros de profundidade até chegar ao fundo do mar. Veja o relato do dia “Dia 16. Nadando em alto mar” para conhecer mais detalhes.

Ficamos pouco mais de uma hora até embarcarmos novamente para retornar.




Uma breve passada nas piscinas naturais

Antes que o passeio terminasse o guia nos levou até o local onde ficam as piscinas naturais de Maragogi/AL. Foi fato que não deu para ver nenhuma delas por causa da maré que, nesse momento, estava mais alta. Entretanto, conseguimos ver uma bela e grandiosa barreira de corais que servia como uma muralha contra o mar.



Posso descrever que, em mim, aquela imagem dos corais ali “erguidos” trazia certa sensação de segurança, pois, do lado de cá, as águas eram relativamente mais calmas.

De outra maneira, lá, além da barreira de corais, percebia que as ondas e a agitação do mar eram maiores. Por exemplo, havia várias “falhas” e aberturas na extensa barreira de corais por onde passava um maior fluxo de água em direção à praia e nesses momentos sentíamos claramente a lancha chacoalhar com mais intensidade.

Assim que transpúnhamos a abertura e retornávamos para dentro da área dos arrecifes o mar se tornava novamente mais manso e “adestrado”. As imagens a seguir, retiradas da internet, ilustram melhor a paisagem que se pode encontrar quando a maré está mais baixa.


Foto retirada da internet. Meramente ilustrativa.


Foto retirada da internet. Meramente ilustrativa.

Daí em diante, fizemos o caminho de retorno até a praia principal de Maragogi/AL. Como ainda estava claro, dei uma volta pela praia para conhecer melhor o local.




Saboreando guloseimas

Quando começou a escurecer voltei para o hotel a fim de começar a arrumar meus pertences, mas, não sem antes parar em uma sorveteria que encontrei no meio do caminho e saborear um belo sorvete de menta com pedaços de chocolate e uma calda quente, também do mesmo sabor, que ao se resfriar se tornou uma espetacular camada de chocolate crocante.



Foto retirada da internet. Meramente ilustrativa.

Que maravilha! Tive que repetir a guloseima.

Pelo pouco que andei na cidade, nesse dia, pude perceber que é bem simples e não soube de nenhuma rua principal de badalação como havia visto anteriormente em outras cidades turísticas por onde já havia passado nessa mesma viagem, como por exemplo, Canoa Quebrada/CE e Pipa/RN.

Antes que me esqueça, também deixei agendada, com o mesmo guia dessa tarde, minha presença no passeio às galés (piscinas naturais) a ser realizado na manhã seguinte.

Confesso que fiquei um pouco receoso de que o passeio não fosse realizado por causa do tempo nublado e chuvoso que tinha se formado e que essa condição perdurasse até o próximo dia, contudo, insisti em despreocupar-me, pois, até lá ainda haveria uma noite inteira para que as nuvens se dissipassem e o tempo melhorasse.

Enfim, por volta das 20h, fui dormir esperançoso que as condições estivessem propícias para o passeio agendado.

Acomodações do dia:



Hotel: R$90,00.


Dicas de viagem

  • Não deixe de tomar um delicioso sorvete, self-service, na praia principal de Maragogi/AL. Não sei se há outras, mas, a sorveteria em que estive fica perto do número 730 (Av. Senador Rui Palmeira).



SOBRE O AUTOR

0 comentários:

Postar um comentário


Categorias