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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Minha história no motociclismo: como tudo começou


Assim como formatamos nosso curriculum vitae para apresentação profissional, com nosso histórico de conhecimentos e realizações no mundo corporativo, não poderia deixar de fazer o mesmo aqui neste site, porém, não como alguém que apresenta sua vida profissional em uma entrevista de emprego, mas, como um motociclista aventureiro que conta a história de seu “curriculum motociclístico” e algumas de suas experiências vividas em veículos de duas rodas... Aí vai, segure-se!

Perda total

Já bem cedo na vida me percebi claramente tendencioso para esse mundo do motociclismo, do "vento na cara". De espírito inquieto, comecei minha experiência de vida sobre veículos de duas rodas já na infância, agitada e “encapetada”. Em verdade, o início não foi em duas rodas, mas, em três.


"Nossa! Que pais desnaturados são estes que entregam um veículo assim na mão de uma criança?" - Indagarão alguns.

Calma! Pois, como dei trabalho para aquele “velotrolzinho” que, ao me ver aproximar, só não corria de medo, como um diabo que foge da cruz, porque não tinha pernas e nem vontade própria. A foto a seguir achei na internet, mas, o meu era igual. Minha mãe confirmou minhas rarefeitas lembranças.


Foto meramente ilustrativa

Não sei se todos tiveram a oportunidade de andar em um desses, mas, de minha parte, já naquela época eu era capaz de “desmontá-lo” por inteiro, não porque apresentara precocemente talentos de um cientista, mas, por causa da "molequice" da infância que fazia-me destruir tudo quanto era brinquedo que colocassem ao meu alcance. Sem dúvida alguma que com o velotrol não seria diferente.

Na garagem de azulejo e piso escorregadio para as suas rodas plastificadas, o giro dos pedais acoplados ao miolo da roda dianteira quase não conseguiam acompanhar a energia imposta pelas pernas do moleque arteiro. Inúmeras foram as vezes em que foi submetido a duros testes de performance e resistência. 

Por exemplo, ao final da reta oposta, na iminência de dar com fuça nas grades daquele enorme portão da garagem, o já castigado veículo, num girar frenético do guidão, ainda era forçado a dar uma derrapagem de última hora, num cavalo de pau de fazer cantar os "pneus" (ou melhor, as rodas), a fim de evitar uma colisão... e tão logo o veículo estivesse pronto para nova largada, tudo recomeçava, porém, dessa vez, no sentido contrário. Isso sem contar as ocasiões nas quais, por consequência de algum erro de cálculo, os traseiros do veiculo e piloto terminavam colidindo com a ferragem do portão fazendo estremecer a estrutura do prédio e assustando seus moradores.

Daí para uma "bicicletinha" foi um passo bem curto. O que sobrou do velotrou? Ora, não me perguntem, pois, se não me lembro é porque minha mente cumpriu bem sua função fazendo-me esquecer, privando-me da lembrança de circunstâncias que, penso, devem ter sido bastante traumáticas. Assim, ao contrário daqueles que, no divã, procuram revolver os destroços das avalanches do passado para se acertarem consigo mesmos, não ousei esmiuçar muito à procura de esclarecer-me sobre os acontecimentos da época. Apenas, especulo ter havido perda total em algum capotamento.


X Games

Por falar em bicicleta, primeiramente com rodinhas laterais, a anarquia se expandiu da garagem do prédio para a Praça do Papa, no alto da avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte/MG. Dessa fase, não lembro muito, mas, contam meus pais que dela não passei ileso e, pelo contrário, houve muitos tombamentos e estilhaços.

Um passo adiante no tempo e um degrau acima na altura foram suficientes para que eu logo dominasse uma daquelas bikes do tipo Cross aro 20.


Foto meramente ilustrativa

Dessa vez, já sem rodinhas laterais, os meus instintos finalmente vieram à tona. Entretanto, logo tiveram que ser direcionados e aprisionados no único local onde eu poderia inicialmente ser solto na companhia dessa nova "arma": não era nem a garagem do meu prédio, onde eu poderia reduzir os carros a ferro velho retorcido, e nem a Praça do Papa, onde certamente seria preso e algemado por consequência das infrações de trânsito.

Contudo, a definição mais fiel que me esforço a dar para o lugar onde eu e aquela bicicleta podíamos externar todo o nosso potencial, é a que posso chamar de “a jaula”. A jaula do quintal do apartamento da minha “vó Nice” e que ficava no térreo do prédio. Ali, com espaço suficiente para dar voltas somente em círculos, ora num sentido, ora em outro, com o piso dividido entre partes de cimento, terra e mato, na companhia de amigos de natureza não tão anárquica e furiosa, porém, iguais na intenção de extravasar as energias, construíamos rampas e obstáculos para exibição da nossa performance.

Assim, formigas saúva e besouros, calangos e lagartixas, “in loco”, na própria pista de corrida ou do alto do gigantesco muro de arrimo, assistiam apavorados e incrédulos ao roncar dos nossos grunhidos - Vrum! Vrum! - simulando o barulho estrondoso das motos de motor dois tempos da época. Consequentemente, soado o alerta do sentinela... ai de algum daqueles bichos nanicos bobos que se mantivessem inertes no caminho dos enormes pneus-biscoito enfileirados e a postos para uma acirrada corrida maluca. Pois, é certo que os que se atrasassem na fuga, ou não tivessem asas para voar, seriam literalmente esmagados.



Foto meramente ilustrativa

 Sem sombra de dúvida, foram os primórdios dos “X Games”.


Foto meramente ilustrativa

Já era hora: motores ligados

Inúmeros cotovelos e joelhos ralados depois, já na adolescência, não menos atrevido do que noutros tempos, agora sim, esbarrei com minha primeira e mais excêntrica experiência motorizada: em verdade, com a minimoto de um amigo igualmente endiabrado. E saíamos eu e ele, dois "magrelos" dementes, ao estilo "Debi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros, 1994 (Wikipedia) - pelas ruas de Santa Rita do Sapucaí, à época uma pacata cidade do interior das Minas Gerais, segurando o trânsito atrás de nós e fazendo enlouquecer até mesmo o mais calmo e tranquilo velhinho que, por azar, se encontrasse no engarrafamento formado por conta da nossa aventura.


Foto meramente ilustrativa

Nesse mesma época presenciei o primeiro acidente de motocicleta. Aqueles, mais sensíveis que saltem para as linhas subsequentes, pois, se ficarem, não ousem dizer que não foram alertados. 

Depois de um “pit stop” estratégico para saciarmos a fome, estávamos na garagem da casa dos meus pais, em Santa Rita, nos fundos da casa, no quintal. A minimoto estava ligada e pronta para arrancar e voltar para a pista (rua) quando escutei o empolgado amigo dizer:

“Vai, Gilberto, pode empurrar. Agora ela vai correr mais do que avião levantando voo!”

Respondi, prontamente:

“Então vai, suba nela e deixa comigo! Eu sei o que vou fazer!” Para ser sincero, o “sei o que vou fazer” eu não disse, mas, o “deixa comigo” fazia parte do meu vocabulário rotineiro, processo automatizado, como um ponto final em cada fim de frase.

Sem desapontar a solicitação convicta do amigo, ao soar o tiro de largada (ou melhor, o grito de largada), tiramos a pequena motoca de sua inércia: ele, montado no banco, acelerando com o cabo do acelerador todo enrolado e domando o curso do destino; e eu atrás, de pé, empurrando a todo vapor em direção à reta de saída dos boxes: uma subida levemente inclinada do quintal (de uns 10 metros) e que dava acesso à rua.

Tudo ia bem. Havíamos passado pelo pequeno percurso da área mais larga do quintal e, ainda acelerando, chegáramos à última curva de alta velocidade (contorno/quina da casa) e que nos daria acesso ao estreito corredor onde, uns 10 metros à frente, cruzaríamos o portão de saída. No entanto, como a pequena motocicleta já alcançara uma velocidade que eu não mais conseguiria acompanhar, principalmente por causa do ataque de risos que naquele momento se abatera sobre mim, então, dei um último e forte empurrão. Daí em diante, meu amigo passou a estar por sua própria conta e eu fiquei para trás, já achando muita graça daquela situação penosa. 

Ao terminar a curva, quase tirando lasca da parede, qual não foi minha surpresa ao vê-lo começar a ziguezaguear a “motoqueta”. Em questão de milésimos de segundos, aquela condição foi ficando cada vez mais incontrolável até que, num determinado momento, veio o inesperado... um grande capote, onde moto e piloto foram ao chão.

Imaginem vocês a minha reação: um adolescente no auge da sua maturidade, com seus 11 ou 12 anos de idade, boquiaberto e com os olhos esbugalhados, vendo o coitado e querido amigo naquela cena estarrecedora. O que fazer? Primeiros socorros? Aprontar gritaria? Esconder o corpo? Vamos, dou um abraço em quem adivinhar! Pois bem, “que nada”, fui o primeiro a começar o gargalhado. O “bicho” estava bem e, logo em seguida, fez coro comigo, contudo, não sem antes soltar um...

Porra, Gilberto, você empurrou forte.”

Em verdade, atualmente, analisando friamente a situação com técnicas um tanto mais avançadas da ciência investigativa, esse último e derradeiro empurrão pode ter saído um pouco mais para a diagonal, ajudando a desequilibrar e descontrolar a moto... se me entendem. Assim, aliado à ótima (ou melhor, péssima) destreza do cidadão que a pilotava, o resultado não poderia ter sido diferente.


Desse jeito, por um bom tempo ficamos ali, nós três: meu amigo estirado de costas no chão, sob o efeito do riso intenso, sem forças para mover a moto que o prendia; a motoca ainda ligada e virada em cima de uma de suas pernas; e eu, nessa hora, já estatelado no chão e com a barriga doendo de tanto rir, formando juntos uma orquestra em perfeita harmonia - a moto com o seu pó-pó-pó, e as outras duas bestas com seu ká-ká-ká.



Vai! Vai! Vamos atingir a velocidade final

Entre uma e outra dessas "brilhantes" ideias de adolescentes, diversas aventuras de bicicleta se fizeram presentes nas "3 torres", local de serra afastado uns 10 km da cidade, onde as antenas de rádio da cidade estavam instaladas... e onde a descida frenética da serra, em chão de terra e cascalho, proporcionava grandes emoções, mesmo sob o risco de uma queda nos fazer ralar a carcaça inteira.

Certa feita, em mais um desses passeios desnaturados que a pouca idade permite imaginar e arquitetar, saímos eu e outro amigo da época (não o mesmo da minimoto, mas, outro) em sua mobilete vermelha de ronco estrondoso e atormentador no intuito de darmos vazão às nossas "destrezas" de piloto juvenil. Vez ou outra nos deslocávamos para uma avenida longa e larga, de chão de paralelepípedos redondos e bem ásperos, que dava acesso à cidade industrial... e lá, sem capacete ou qualquer outra proteção para o corpo, nos empenhávamos em esgoelar ao máximo o motor da coitada da mobilete, na intenção de verificar a máxima velocidade que, por limitações de sua própria mecânica, não passaria dos 50 km/h. Sim, confesso: dois retardados!


EUREKA!

Anos mais tarde, após um longo período em coma, não físico propriamente dito, mas motociclístico, definitivamente dei entrada no "hospício dos loucos"... loucos por uma verdadeira aventura em duas rodas e pela sensação de liberdade que somente quem gosta de andar de moto pode ter e entender. Assim, em meados do ano de 2011, "Eureka"! Num caminhar qualquer, simplesmente, atinei: 

"Poxa, eu posso comprar uma moto!" 

Assim, entre o momento da decisão de adquirir uma motocicleta e sua retirada da concessionária, só tive que esperar o exato intervalo de tempo requerido pelos trâmites para obter a habilitação exigida.

A partir de então, já com temperamento mais domado e cauteloso, iniciou-se a grande aventura de andar de moto e na carcunda de uma Honda Bros usada, de cor preta e 150 cilindradas saí pelas ruas de Belo Horizonte/MG.


Minha primeira moto - Honda Bros 150 cc

Daí para uma valente moto de 250cc que me rendeu grandes alegrias foi um pulo, inclusive, possibilitando-me realizar minha primeira grande viagem de moto de aproximadamente 4.300 km onde, sozinho, viajei pelo sul do Brasil (passando por Foz do Iguaçu/PR, Serra do Rio do Rastro/SC, Beto Carrero World/SC e Curitiba/PR). Era uma Yamaha Lander de 250cc, vermelha, ano 2008.


Minha primeira grande moto - iniciando nas estradas. Yamaha XTZ Lander 250 cc

Felizmente, hoje, com uma Yamaha XT660R, preta, modelo 2010, tenho tido inesquecíveis aventuras.


Minha primeira Big Trail - Início de grandes aventuras - Yamaha XT 660R.

Pois bem, assim tentarei continuar, até quando as pernas fracas e cansadas já não mais tiverem condições de erguerem-se para montar e domar esse cavalo bravo chamado motocicleta... Então, quando não mais puder fazê-lo, lá nos meus 130 anos, manco e desconcertado, poderei ao menos rememorar e folhear as páginas das minhas realizações, em paz de espírito, sabendo que mesmo com as dificuldades surgidas ao longo da vida consegui realizar os sonhos e idealizações que ousei propor-me algum dia no passado.

Assim como tenho tido a alegria dessas realizações, faço votos que cada um possa alcançar as suas próprias.


E você, veio de uma infância arteira também ou teve temperamento mais calmo e contido? Fique à vontade e compartilhe alguma experiência sua, comentando abaixo.

SOBRE O AUTOR

4 comentários:

  1. Olá, gostaria de parabenizar pelo blog! Lendo seu artigo "Minha história no motociclismo" fiz uma auto-análise e percebi que minha paixão pelas motos começou tarde aos 35 anos, mas forte a ponto de me levar a criar um negócio (Machine Cult) só para ficar mais perto do "mundo" das motos. Sucesso ao blog!

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    1. Olá Carlos!
      Fico contente pela admiração! Sem querer ser repetitivo: "nunca é tarde para começar". Quem realmente quer, corre atrás... Sucesso para você também.

      Felicidades!
      Gilberto.

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  2. Parabens pelo blog, tambem tive motos por mais de 20 anos, começei na cg 125 1980 nova...e terminei na cb 400 1982, q viajou comigo, pelo 3 vezes até Maceió e uma vez até Fortaleza acompanhado de uma xl250...agora, depois de 25 anos de coma motociclistico, fazendo de suas as minha palavras, rs..estou comprando uma shadow 750 2007, e no ano q vem vou refazer todas a viagens que fiz por aqui, para depois tentar ir para fora...gostaria de ter mais informaçoes suas, sobre bagagem, e hospedagem. Abraços Claudio

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    1. Olá Claudio!
      É isso mesmo! se deu vontade de voltar a motocar, então, vá em frente. Se quer viajar, vá também, sozinho ou acompanhado. O negócio é não deixar de aproveitar a vida.

      Com relação às informações, ajudo no que puder. Aliás, quanto à bagagem e equipamentos, também tem alguma informação num artigo que escrevi a respeito, nesse link:

      http://www.kallasweb.com/2014/05/bagagem-viagem-moto-mala-roupas_8.html

      Abraço!

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