Quarta-feira, 25 de setembro de 2013.
Posadas/Argentina (60 km).
Posadas/Argentina (60 km).
Bem perto do Brasil, problemas aconteceram. Em Posadas/AR, uma corrente de motocicleta solta nos impediu de visitar as Cataratas do Iguaçu... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.
Ainda bem que não enroscou na roda
Às 9h já estávamos prontos, com as motos carregadas com a bagagem e saindo do hotel. Como estávamos a apenas 300 km da fronteira com o Brasil, se tudo corresse bem, visitaríamos as Cataratas do Iguaçu do lado argentino, no período da tarde.Sem muita complicação encontramos o caminho para a rodovia. Logo na saída da cidade, passamos por alguns radares de velocidade. Íamos andando bem, de forma tranquila, até chegarmos ao primeiro pedágio, a 60 km do hotel onde havíamos hospedo em Posadas/AR.
Assim, ao passarmos pelo pedágio, 500 metros à frente, quando comecei a acelerar um pouco mais forte para ganhar velocidade, notei que repentinamente o acelerador girou em falso. Ou seja, quando girei o acelerador, a moto apenas acelerou o motor, mas, nenhuma tração foi exercida sobre a roda para que ganhasse velocidade. Nesse momento, tinha certeza de que ocorrera algum problema mais sério e até já imaginava qual teria sido a causa.
Para minha sorte, não havia veículos perto de mim e, então, a única alternativa que tive foi direcionar a moto para o acostamento. Como eu achava que não resolveria aquela situação rapidamente, avancei para o gramado que havia ao lado da estrada e estacionei debaixo de uma árvore.
Como já tinha um palpite a respeito do que teria ocorrido, ao descer da moto, logo direcionei minha atenção para a parte traseira e o que vi não me surpreendeu nem um pouco: a corrente havia saído da coroa e estava pendurada. Ainda bem que não enroscou na roda, caso contrário, ela poderia ter travado e provocado uma queda. Apenas como curiosidade, havia deixado a câmera filmando a paisagem e apontada para trás. Dessa forma, ela conseguiu registrar o momento em que a corrente saiu da sua posição original.
Preciso de ajuda
Assim que passamos pelo pedágio, o Pedro havia tomado a dianteira e não viu, de imediado, que eu estava com problemas. Consequentemente, de mãos atadas, aguardei até que ele notasse a minha ausência no seu retrovisor e voltasse para verificar. Dito e feito. Alguns instantes depois, o vejo retornando e, ao parar perto de mim, comuniquei o que acontecera. Ele também não gostou nada. Entretanto, não havia o que fazer e a solução seria pedir ajuda.Por sorte, esse contratempo ocorreu bem perto da civilização e ainda podíamos ver a praça de pedágio alguns metros atrás. Consequentemente, o Pedro se deslocou até lá no intuito de solicitar um caminhão guincho, pois, sem dúvida alguma, a moto teria que ser rebocada de volta para Posadas/AR.
Em questão de poucos minutos ele já estava de volta dizendo ter levado “um século” para fazê-los entender que precisava de um caminhão reboque. Disse que levaria uns 40 minutos até que o guincho chegasse. Disso, ele teve uma ideia: como tudo já estava encaminhado, então, em vez de esperar, achou melhor se adiantar e voltar para Posadas de uma vez, pois, enquanto eu estivesse resolvendo o meu problema, ele poderia tentar encontrar um novo pneu para sua moto.
Enquanto isso...
Passado o exato tempo estimado, vi o reboque chegar pela estrada. Colocamos a moto na plataforma do veículo e rumamos de volta para Posadas. Como não conhecia nada na cidade pedi ao motorista que me deixasse diretamente em uma loja de motocicletas.
Então, ao chegarmos em Posadas, o primeiro lugar que tentamos estava fechado. Já eram 12h15 e, logo, fomos até um segundo local. Ao longo do caminho, conversando com o motorista, soube que eles têm o costume de fechar os estabelecimentos comerciais por volta do meio dia e de só reabri-los em torno das 15h, ficando abertos até umas 20h. Então, percebi que estava encrencado, pois, teria que esperar mais um bocado até que qualquer manutenção pudesse ser iniciada.
Como previsto, a segunda loja também estava fechada, contudo, o motorista sabia que o dono do estabelecimento morava na rua ao lado. Consequentemente, batemos à porta de sua residência, ele nos atendeu e explicamos a situação. De imediato se mostrou bastante receptivo e nos pediu que aguardássemos alguns minutos na frente da loja, pois, permitiria que eu colocasse minha moto lá dentro. Nesse intervalo, fui acertar a conta do deslocamento com o motorista e retirar a moto da carroceria do caminhão.
Deixa morrer assim
Finalizado o pagamento da conta, colocamos a moto dentro da loja, agradeci o motorista e o dono do estabelecimento e cada um foi para o seu lado. Nessa hora já estava com fome e, então, fui a uma lanchonete que me disseram existir ali perto. Ao chegar na lanchonete, olhei o cardápio, pedi um sanduíche e fui me sentar em uma das mesas disponíveis. Como não sou nenhum saco sem fundo e também não gosto de desperdiçar comida, escolhi um lanche que, pelos ingredientes que consegui traduzir, julguei não ser muito grande.Alguns minutos depois, o espanto! Chega um sanduíche enorme, de carne de boi, cujo bife ultrapassava completamente as bordas do pão que o envolvia. Quando o funcionário que havia trazido o prato se virou e foi embora, coloquei a mão na cabeça, como quem sinaliza alguma, ou melhor, muita preocupação... e pensei:
“Minha nossa! Isso aqui vai me matar... de tanto comer!”
...Então, encarei o desafio. Não vou falar muito, pois, não é educado falar de boca cheia. Ao final, não aguentava nem enfiar o dedo na boca para empurrar o último pedaço goela abaixo.
Voltei para a frente da loja de motopeças andando lentamente, a passos lentíssimos, pesados, quase arrastando as pernas, pois, todas as energias do meu corpo estavam concentradas em digerir aquele bife do almoço. Eram 13h30 e o comércio só reabriria depois das 15h. Pois bem, ruazinha calma, de pouco movimento naquele horário, com sombra debaixo do toldo. Já captaram a minha mensagem? Acomodei-me ali na calçada mesmo. Encostei as costas e a cabeça na parede, apoiei as costelas no degrau raso à direita e, no chão da calçada, estiquei as pernas, pois, o passeio era largo, havia espaço. Assim, as pálpebras tombaram. Ali, do jeito como estava, se alguém pensasse em chamar pelo meu nome, eu lhe mandaria uma mensagem por telepatia:
“Não mexa em nada. Deixa morrer assim!”
Mas, desconfiado que sou, não cochilei, fiquei apenas de vigília, em ondas alfa.
Vamos trabalhar
Para lá das 15h, o dono da loja de motocicletas (Mario Pegoraro) reabre o estabelecimento, na companhia de seu filho “Ruan” e sua filha “Carmen”, e começam os trabalhos para efetuar a troca da corrente. O Ruan teve algum trabalho para removê-la, pois, parte dela havia se enrolado em outra engrenagem da moto.
Em seguida, uma nova peça foi providenciada, a única que serviria para esse tipo de moto, porém, mais fraca que a original. Consequentemente, disseram-me que ela poderia folgar um pouco após alguns km rodados e que eu teria que observar e apertá-la novamente, caso isso viesse a acontecer.
“A moto é grande, de tração mais forte, está mais pesada. Já vi essa estória antes!” Pensei comigo.
Contudo, não houve alternativa. Terminados os procedimentos de troca, o Mario não quis cobrar o preço da mão de obra e ainda paguei, apenas, o preço de custo da nova corrente. Disse que, dessa maneira, ele ficaria com o prejuízo. Porém, irredutível, não voltou atrás na gentileza concedida.
Enfim, era hora de partir, mas, não sem antes darmos algumas boas risadas. Ainda soube que o Mario foi bicampeão nacional de motovelocidade e trabalhava (em setembro/2013), como deputado, em Posadas/AR. (Na foto abaixo, apenas para identificar, o Mario é o homem de camisa avermelhada e seu filho, Ruan, o rapaz mais novo de camisa de cor cinza).
Vamos achar o Pedro
Por volta das 17h30 saí para procurar o Pedro. No momento em que ele me deixou esperando o reboque combinamos nos reagrupar no restaurante onde tínhamos jantado na noite anterior. Assim que passei por lá não o vi, então, imaginei que tivesse voltado ao hotel e lá o encontrei. Convenientemente, achamos melhor pernoitarmos novamente em Posadas/AR, haja vista que já estava quase no fim do dia e o Pedro já tinha realizado o check-in no quarto do hotel.Depois de ter acabado completamente com o pneu da moto ele, oportunamente, conseguiu trocá-lo por um novo. Comentou que quando desmontaram seu pneu ele já estava começando a rasgar. Só não deu sorte de achar da mesma marca/modelo que o pneu dianteiro.
Uma vez decidido que ficaríamos mais esta noite, o Pedro achou melhor fazer o serviço completo e trocar, também, a corrente da sua moto a fim de evitar o mesmo problema que ocorreu comigo. Dito isso, levei-o até a loja do Mario Pegoraro para pedir que ele indicasse onde conseguiríamos encontrar uma corrente para a moto do Pedro. Feita a indicação, saímos em busca do artefato. Procurávamos, por segurança, um tipo de peça mais resistente do que aquela que eu havia comprado. Dessa maneira, fizemos um tour pelo centro de Posadas/AR e de referência em referência achamos o que queríamos. Depois, levamos em um mecânico para completar a tarefa.
Finalmente, terminados todos os procedimentos de manutenção, passamos em um posto de gasolina para já deixarmos as motos abastecidas para o dia seguinte e, em seguida, voltamos ao hotel.
Mais à noite saímos para jantar.
Lamentamos um pouco a impossibilidade de visitarmos as Cataratas do Iguaçu, porém, não nos faltaria oportunidade para fazê-lo no futuro, noutra ocasião.
Hotel: $125 pesos argentinos (US$21,65)
Dicas de viagem
- Mesmo que, antes da viagem, você já tenha feito uma boa revisão em sua moto (pelo menos, assim espero), durante o percurso sempre verifique alguns itens principais de segurança tais como, setas, buzina, luz de farol, folga na corrente (se for o caso) e sua lubrificação, etc... a fim de poder corrigir e prevenir possíveis problemas.
- Se possível, arrume um companheiro de viagem. Viagens solitárias de moto são sempre mais arriscadas do que se forem realizadas com duas ou mais pessoas, pois, se algo acontecer ao motociclista ou à moto na estrada, o companheiro poderá ajudar a resolver os problemas que aparecerem ou ir procurar por ajuda.
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