Terça-feira, 24 de setembro de 2013.
Pampa Del Infierno/Argentina a Posadas/Argentina (583 km).
Qual foi a maior reta que já pegou em estradas? Pois bem, a nossa foi de 500 km, entre Salta e Resistencia, ao norte da Argentina... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.
Trajeto do dia:
Trajeto detalhado:
...e na estrada havia uma reta
Começamos o dia saindo às 10h, com céu completamente sem nuvens, porém, com alguma friagem. Ao iniciarmos a viagem, nos deparamos com uma estrada não muito boa, pois, em diversos trechos, o asfalto era formado por muitos frisos, de um lado a outro da pista. Isso fazia com que andássemos mais devagar, em torno de 90 a 100 km/h, a fim de evitar que a moto ficasse desgovernada. Em outras palavras, como esses frisos no asfalto não seguiam uma linha completamente reta, ao chegar em uma velocidade mais elevada, a moto passava a ter um comportamento diferente que poderia ir até o nível do incontrolável, caso a aceleração não fosse reduzida.
Dessa forma, mesmo em trechos onde não existiam os tais frisos, mantínhamos um ritmo de viagem mais cauteloso para que não fôssemos surpreendidos por um pedaço ruim de asfalto que surgisse repentinamente. Além disso, ainda encarávamos a constância e insistência dos fortes ventos.
É interessante comentar que nos relatos iniciais, dos primeiros dias de viagem, me surpreendia com o tamanho das retas. Contudo, depois que iniciamos a trajetória na Ruta 16, vi que quaisquer outras retas onde havia dirigido, até então, poderiam ser consideradas apenas como “papinha de neném” se comparadas com essa gigantesca existente na Ruta 16. São nada menos que 500 km de reta (entre o ponto de entrada da Ruta 16 até a cidade de Resistência/AR) e um enorme convite para um acidente para qualquer motorista que se mostre mais propenso à sonolência ou distração. É claro que confesso que havia uma curva ou outra, mas, pessoalmente, não consigo considerar como curva qualquer pedaço de asfalto que eu possa percorrer a 130-140 km/h e, de tão abertas que eram, quase não se percebia alguma mudança de direção.
Perto das pequenas cidades e vilarejos por onde passávamos víamos muitos motociclistas sem casco (capacete) trafegando pela rodovia, assim como pudemos observar na Bolívia e Peru.
ATENÇÃO: Vá pela via marginal
Chegando em Resistência, num determinado ponto, a pista principal da rodovia estava em reforma e tivemos que passar pela lateral. Em Resistência/AR e Corrientes/AR, ao lado da estrada principal, existem outras duas vias paralelas (uma de cada lado e em sentidos opostos). Também, já havia lido vários relatos de outros motociclistas informando que motos não podem trafegar na via principal, devendo utilizar a avenida marginal, ou seja, paralela à estrada principal. Todavia, ao passarmos pelos pontos que estavam em reforma, a própria via em que estávamos trafegando nos direcionou de volta para a pista principal e, depois, confesso que não vi sinalização clara informando sobre a obrigatoriedade de se desviar e utilizar a avenida “coletora”.
Dessa forma, a partir do local onde fomos reconduzidos para a via mais importante, continuamos seguindo até passarmos pela ponte Resistência-Corrientes e atravessarmos completamente a cidade de Corrientes/AR sem encontrarmos problema algum. Admito que podemos ter tido um pouco de sorte nessa travessia, pois, não fomos parados pelos policiais. E ainda lembro de ter visto alguns deles orientando o retorno da avenida “coletora” para a principal. De qualquer forma, então, fica o registro de tais condições para outros motociclistas.
Foto cedida pelo Pedro
Um
pouco depois de Corrientes/AR, como se não bastassem os animais que
repentinamente cruzavam a pista, ainda tivemos que passar, a passos
muito lentos, por uma boiada que literalmente ocupava boa parte do nosso lado da estrada.
"Nossa! Você já viu isso?"
Finalmente, sob um céu tão limpo quanto aquele que presenciamos ao deixarmos a cidade de Pampa del Infierno/AR, chegamos em Posadas/AR onde decidimos pernoitar. Já eram quase 19h quando saí para procurar uma oficina de motocicletas com o intuito de “cambiar o aceite de motor” (trocar o óleo do motor) da minha moto. Por sorte, descobri uma oficina ao lado do hotel onde ficamos hospedados, porém, tive que sair para comprar o óleo de motor em outra loja indicada pelo dono da oficina. Consequentemente, trocamos o óleo e, em seguida, a corrente da moto foi apertada novamente. Percebi que ela estava ficando frouxa mais rápido do que em condições normais de uso e fiquei com receio de que pudesse ser algo mais sério.
Enfim, voltei para o hotel, comecei a fazer backup dos vídeos gravados nesse dia, retirei do alforge a roupa que iria vestir e me dirigi ao banheiro para um merecido banho quente. Enquanto achava que o dia terminaria sem maiores preocupações, quando levantei a tampa do vazo, tendo a intenção de “tirar a água do joelho”, a visão que tive foi estarrecedora e uma reação de nervosismo se abateu sobre mim e comecei a rir. Quando me acalmei e recuperei o fôlego, gritei para o Pedro:
“Nossa! Você já viu isso?”
Só escutei uma risadinha e a resposta em seguida:
“Já.”
E num tom de voz irônico, de zombaria, retruquei:
“Já usou esse sistema?”
Ele respondeu:
“Nunca antes! E, também, não estou com vontade de fazer o número 2 hoje!”
(Se você leitor, não sabe o que é o “número 2”, então, vá procurar na internet, pois, a condição polida e respeitosa dessa narrativa não admitiria me aprofundar, um tiquito mais que seja, no esclarecimento dessa expressão).
Então, como em um anoitecer no campo, do mesmo modo quando me percebia deitado no gramado para observar o céu, lá no sítio do Bororó... um silêncio angustiante, digno dos filmes de suspense, se fez presente.
Quase em estado de choque, estava eu ali, diante daquela ameaça iminente. E se pudesse me observar, de fora do meu corpo, nitidamente notaria algumas reações:
- as pupilas dilatadas, aguçando minha percepção visual;
- os músculos tencionados, prontos para qualquer reação de emergência;
- a transpiração aumentada, tentando manter o corpo frio e refrigerado;
- uma respiração mais profunda e acelerada, no intuito de captar maior quantidade de oxigênio para o trabalho de força e reação dos músculos;
- o coração em ritmo mais forte...
Naquele momento, em milésimos de segundos, precisei reagir. Assim o fiz e, então, gritei para o Pedro:
“Se eu ficar com vontade de dar uma cagada, vou cavar uma fossa nesse terreno baldio aí ao lado do hotel! Número 2 aqui não malandro!”
Percebam o "lavador debunda" acoplado ao vaso sanitário! Mas, advirto, são cenas fortes. Quem não puder suportar, que feche os olhos:
Percebam o "lavador de
Aposto que as gargalhadas devem ter chegado aos ouvidos de todos os outros hóspedes do hotel. Finalmente, fomos jantar e comemos uma generosa porção de carnes.
Hotel: $125 pesos argentinos (US$21,65)
SOBRE O AUTOR
Puts fiquei nesse hotel em Posadas também quando fui ao atacama. Surreal esse banheiro, hehehe
ResponderExcluirOlá.
ExcluirÉ uma viagem bem legal, não? Quanto ao banheiro, viu só!? Se o sujeito escorregar, ele "tá" encrencado...
Abraço!
,,,Fantástico,,nessa reta de 500km se percebe algum declive ou subida ,,?,,pela distancia deveria ter pelo menos 12km de subida ou descida,,
ResponderExcluirOlá.
ExcluirSe há algum declive, ou aclive, é totalmente imperceptível durante o percurso, pois, não existem morros a cruzar.
Moro em Santo Antonio do Sudoeste a uns 2 anos, fronteira com a Argentina e até agora só fui até San Antonio, mas quero conhecer mais a Argentina. É reta que não acaba mais, é assim quase em toda Argentina.
ResponderExcluirA Argentina é muito grande. Alguns locais são de longas e intermináveis retas. Não desanime, aventure-se!
ExcluirUm abraço!