Quarta-Feira, 18 de setembro de 2013.
De El Fiscal / Peru a Arica / Chile (326 km).
Desliza para um lado e para o outro. Será que é o vento forte? Não. É só um pneu furado escorregando à beira do oceano pacífico... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.
Trajeto do dia:
Trajeto detalhado:
Apertando o passo
Nesse dia, assim que o despertador tocou, às 6h, levantei-me às pressas, troquei de roupa e fui ver se o Pedro já havia acordado, pois, ele havia dormido em outro quarto. Queríamos sair mais cedo do que de costume a fim de aproveitarmos mais tempo de viagem durante o dia. Conseguimos sair às 8h e rumamos em direção a Arica, no Chile.Logo nas intermediações, vimos o que parecia ser um verdadeiro oásis no deserto. Uma paisagem verdejante rodeada por um mundo de montanhas de areia, pedra e cascalho.
Até que, então, chegamos em uma bifurcação. Indo reto seguiríamos pela rodovia "Panamericana Sur", localizada mais para dentro do continente e nos faria passar pelas cidades de Moquegua/Peru e Tacna/PE. Porém, virando à direita, teríamos pela frente um belo caminho margeando o oceano pacífico. Naturalmente, o trajeto que tangenciava as águas do pacífico foi o escolhido, afinal de contas era parte do planejamento motocar pelo litoral do Peru e Chile.
Sempre acompanhados de belas paisagens.
Ao atravessarmos a pequena cidade de Punta de Bombom/Peru, num determinado momento erramos o ponto de saída para a rodovia e tivemos que percorrer uma série de estradas de terra, em meio a uma enorme área de cultivo de grãos, a fim de reencontrarmos o local de entrada para a rodovia.
Cedo ou tarde iria acontecer
Chegando no litoral, em Punta de Bombón/Peru, no momento em que já havíamos atravessado a cidade e estávamos uns 4 km à frente, no sentido para o Chile, vejo o Pedro, literalmente, patinar no asfalto com a sua moto.
Quando o vi diminuir subitamente a velocidade, imaginei que pudesse ser por causa da ação do vento forte, mas, em questão de pouquíssimos segundos pude ver que havia algo errado e, como num reflexo, olhei para o pneu traseiro e percebi que estava muito vazio.
Ele não havia comprado pneus novos para a viagem e, nesse ponto, eles já estavam em condições muito ruins. O pneu traseiro, que recebe toda a carga de tração, já estava totalmente careca e necessitava urgentemente ser substituído. Consequentemente, o inevitável aconteceu: furou.
Ah! Mas, eu estava preparado. Logo encontrei, dentre os utensílios da minha bagagem, um desses reparadores instantâneos de pneu furado e que prometem milagres. Com enorme expectativa, e num sentimento de já ganhou, tentamos usá-lo para encher o pneu furado.
O Pedro sujou o bico da câmara de ar e o pneu todo ao redor dele, e aposto todas as minhas fichas que nenhuma gota do produto milagroso se projetou para dentro do pneu, como imagináramos que fosse acontecer. Logo indaguei:
"Quem mandou você não trocar esse pneu antes de sair de casa, no Brasil?"
E um par de gargalhadas ecoou pelo oceano pacífico.
"Quem mandou você não trocar esse pneu antes de sair de casa, no Brasil?"
E um par de gargalhadas ecoou pelo oceano pacífico.
Tudo bem, nem tudo estava perdido e ainda havia esperança. Quem sabe não teria sido apenas um simples vazamento momentâneo. Consequentemente, disse ao Pedro:
"Então, vamos tentar com a bomba de ar portátil."
Achou que iria ser fácil?
Ali perto avistei uma guarita que parecia ser do exército e fui explicar o problema e verificar onde poderíamos obter ajuda. Os militares disseram que poderíamos encontrar uma oficina no centro da cidade.O Pedro tentou voltar um pouco com a moto, indo bem devagar, e eu o acompanhava, avançando e esperando um pouco mais à frente, até que ele percebeu que não daria para retornar à cidade dessa maneira, pois, poderia danificar o aro do pneu. Então, pedi a ele que me esperasse ir buscar ajuda.
Dito e feito! Encontrei uma oficina de motocicletas e pedi socorro ao dono que, prontamente, concordou, mas, tive que esperá-lo terminar um serviço que já havia começado.
Enquanto isso, chega o Pedro de moto-carrinho, com a sua parafernália toda. Havia deixado a moto no acostamento e veio verificar o motivo da demora.
Agora sim, alguém que entende
Esperamos o mecânico terminar e fomos atrás da moto trocar o pneu. Em verdade, o pneu não foi trocado porque na oficina não havia nenhum outro na mesma medida que serviria para a moto. Contudo, apenas a câmara de ar foi substituída por uma sobressalente que ele levava no compartimento que fica embaixo do banco da moto. Nesse sentido não teríamos problemas, pois, minha moto era igual à dele e eu também carregava um par de câmaras de ar. Nossa preocupação imediata ainda era com o pneu careca da moto do Pedro.
Após o serviço feito no acostamento da rodovia, voltamos para a oficina para o mecânico terminar alguns ajustes. Tiramos fotos com o pessoal da oficina e, em seguida, procuramos um restaurante a fim de resolvermos outro problema: a fome.
Após o serviço feito no acostamento da rodovia, voltamos para a oficina para o mecânico terminar alguns ajustes. Tiramos fotos com o pessoal da oficina e, em seguida, procuramos um restaurante a fim de resolvermos outro problema: a fome.
Então, vamos tentar de novo
De “bucho” cheio, novamente passávamos pelo mesmo local onde o pneu havia furado, porém, dessa vez, não tivemos nenhum outro susto e a angústia de passar novamente pelo mesmo ponto terminou por ficar para trás.Instantes depois, sob vento forte, pela primeira vez na viagem, avistamos o oceano pacífico e com ele as belíssimas paisagens que sua presença ajudava formar. Observávamos de um lado o oceano pacífico, na sua imensidão, até o ponto em que a vista não mais o alcançasse no horizonte; de outro, as montanhas de terra/areia, de cor amarronzada, que mais pareciam paredões intransponíveis.
Fomos “ziguezagueando” pela estrada litorânea do pacífico (a Costanera Norte) até chegarmos à cidade de Ilo/PE.
Em Ilo/PE tentamos, em vão, encontrar um pneu para a moto do Pedro. Eram umas 15h30 e as lojas já estavam fechando. Geralmente, o comércio abre cedo e fecha, proporcionalmente, mais cedo também.
Mesmo assim, seguimos em frente, para a fronteira Peru-Chile, no litoral, onde chegamos por volta das 16h30.
Rapidamente, e sem burocracia, realizamos os procedimentos de saída do Peru. Passa-se pelo setor de migração e o passaporte é carimbado e liberado; apresenta-se a moto na aduana e a permissão para trafegar pelo país com veículo próprio é recolhida. Pronto, liberados e, mais uma vez, no limbo... pois, formalmente, não estávamos nem no Peru e nem no Chile.
Tem pneu aí?
Em Ilo/PE tentamos, em vão, encontrar um pneu para a moto do Pedro. Eram umas 15h30 e as lojas já estavam fechando. Geralmente, o comércio abre cedo e fecha, proporcionalmente, mais cedo também.
Mesmo assim, seguimos em frente, para a fronteira Peru-Chile, no litoral, onde chegamos por volta das 16h30.
Que venha o Chile
Rapidamente, e sem burocracia, realizamos os procedimentos de saída do Peru. Passa-se pelo setor de migração e o passaporte é carimbado e liberado; apresenta-se a moto na aduana e a permissão para trafegar pelo país com veículo próprio é recolhida. Pronto, liberados e, mais uma vez, no limbo... pois, formalmente, não estávamos nem no Peru e nem no Chile.
Enfim, alguns metros à frente, chegamos na fronteira chilena onde levamos quase 2h30 para efetuar os trâmites de entrada no país. A demora ocorreu porque, além de nos apresentarmos na migração/aduana, precisamos descarregar a bagagem das motos para passá-la no raio-x.
Um policial se encarregou de nos ajudar com as atividades burocráticas para registrar a entrada no país e, no final, nos forneceu algumas boas informações a respeito do trajeto até Arica/Chile. Comentou já ter morado em São Paulo. Com tudo resolvido saímos às 19h.
Avistamos Arica uns 20 minutos depois.
Ao chegarmos, ainda ficamos um pouco perdidos, vagueando de uma avenida para outra, indo e vindo, até encontrarmos um hotel pouco depois das 20h.
Avistamos Arica uns 20 minutos depois.
Ao chegarmos, ainda ficamos um pouco perdidos, vagueando de uma avenida para outra, indo e vindo, até encontrarmos um hotel pouco depois das 20h.
Enquanto realizávamos o check-in, chegaram outros dois motociclistas brasileiros (do sul do Brasil) que vinham de San Pedro do Atacama, no sentido contrário ao nosso. Comentaram que por lá, dias atrás, havia nevado muito e as estradas até tinham ficado impossibilitadas de se trafegar.
Você está achando que é milionário?
Finalizados os procedimentos, descarregamos as malas e saímos para comer algo. Aliás, minto, saímos primeiramente para procurar um banco, ou caixa eletrônico, onde pudéssemos sacar dinheiro, pois, havíamos cruzado a fronteira Peru/Chile sem nenhum tostão de pesos chilenos no bolso. Com muita dificuldade, conseguimos sacar alguma quantia.
Ainda, antes de retirar o dinheiro, abordei uma pessoa na rua e lhe perguntei quanto custava, em média, uma garrafa de água (por exemplo, de 600ml), a fim de fazer uns cálculos aproximados de quanto dinheiro poderia necessitar para a estada no Chile.
Instantes depois, saímos do banco em meio a gargalhadas. Vou explicar: na hora de escolher a quantia a ser sacada, como estavam todas indicadas na casa dos milhares (valores em moeda chilena), optei por escolher uma das opções de valor mais alto, ludibriado pelos meus cálculos iniciais... e repeti a operação outras duas vezes. Consequentemente, quando os neurônios (o Tico e o Teco) resolveram funcionar direito, percebi que já havia retirado uma quantia muito além do necessário e parei por aí. Assim, resolvemos sair logo dali, antes que a polícia federal resolvesse investigar.
Instantes depois, saímos do banco em meio a gargalhadas. Vou explicar: na hora de escolher a quantia a ser sacada, como estavam todas indicadas na casa dos milhares (valores em moeda chilena), optei por escolher uma das opções de valor mais alto, ludibriado pelos meus cálculos iniciais... e repeti a operação outras duas vezes. Consequentemente, quando os neurônios (o Tico e o Teco) resolveram funcionar direito, percebi que já havia retirado uma quantia muito além do necessário e parei por aí. Assim, resolvemos sair logo dali, antes que a polícia federal resolvesse investigar.
Para finalizar o dia de viagem, uma situação engraçada aconteceu quando terminamos de jantar: quando a funcionária encerrou nossa conta, sem ter muita referência sobre os valores, acabei dando uma quantia alta de dinheiro para pagar o jantar.
Ao ver aquele exagero, a funcionária arregalou os olhos e começou a rir e eu, com a maior ingenuidade, num portunhol improvisado (daquele jeito), ainda saquei um:
"É mucho?"
Ela logo confirmou com a cabeça e não disse mais nada. Foi como se eu tivesse dado R$300,00 (US$133,40) para pagar uma conta de R$10,00 (US$4,45). Demos boas risadas.
"É mucho?"
Ela logo confirmou com a cabeça e não disse mais nada. Foi como se eu tivesse dado R$300,00 (US$133,40) para pagar uma conta de R$10,00 (US$4,45). Demos boas risadas.
Voltamos para o hotel em seguida. A foto das acomodações foi tirada na manhã do dia seguinte.
O padrão de tomadas que encontramos no Chile foi o de três encaixes, em linha, e não tivemos problemas para ligarmos nossos carregadores.
Hotel: $17.605,00 pesos chilenos (US$35,00)
O padrão de tomadas que encontramos no Chile foi o de três encaixes, em linha, e não tivemos problemas para ligarmos nossos carregadores.
Hotel: $17.605,00 pesos chilenos (US$35,00)
SOBRE O AUTOR
Parabéns pelo o blog, muito bom o conteudo!!
ResponderExcluirOlá! Obrigado!
ExcluirFico feliz que tenha gostado!
Abraço!
parabéns pelos relatos camarada. estão sendo muito úteis. to me programando p setembro deste ano. como se consegue sacar dinheiro lá fora? tem bancos daqui do brasil, quais vc viu?
ResponderExcluirprivados, publicos?
Olá! Obrigado pelo elogio!
ExcluirA intenção é a de compartilhar e ajudar mesmo. Bacana que está sendo útil. Sei como é essa dificuldade do dinheiro, também tive várias dúvidas enquanto planejava a viagem. Quanto à logística do dinheiro, por causa dessa mesma dificuldade em achar informação a respeito do uso de cartões, usamos dinheiro em espécie em quase toda a viagem. Contudo, pelo que observei:
- na Bolívia é certo que você poderá ter dificuldade para encontrar bancos ou caixas eletrônicos que lhe favoreçam o uso do cartão de crédito ou Visa Travel Money, por exemplo... a não ser naquelas cidades menores onde o fluxo de turistas é muito grande, assim, você terá mais facilidade para encontrar lugares para sacar dinheiro.
Obviamente, em cidades maiores o acesso também pode ficar mais fácil. Digo isso porque atravessamos a Bolívia inteira apenas com dinheiro no bolso, ou seja, não utilizamos cartão de crédito ou pré-pagos (Visa Travel Money). Em hotéis, você poderá usar cartão naqueles que tiverem melhor infra-estrutura. Em hotéis menores ou pousadas, será bem difícil.
- o Peru fica quase que nas mesmas condições da Bolívia. Não espere conseguir usar facilmente algum cartão. Assim como na Bolívia, sugiro não deixar de levar dinheiro em espécie para as regiões mais afastadas dos grandes centros, sob pena de acabar passando algum aperto.
Em Ollamtaytambo / Peru, conseguimos pagar com cartão as passagens de trem (da empresa Peru Rail) para Águas Calientes. Pousadas, em geral, recebiam em dinheiro nacional ou dólar americano. Em Chivay (Vale do Colca) foi onde precisamos sacar dinheiro de caixa eletrônico pela primeira vez. Não lembro do nome da agência bancária, mas, existe uma de fácil acesso bem na praça central. Basta contornar a praça procurando, pois, é fácil de reconhecê-la (tem foto dela no post de Chivay, ). Atenção ao caixa eletrônico que que fica do lado de fora do banco, pois, só funciona no mesmo horário de atendimento da agência. Perto de Tacna, tinha dinheiro no bolso, mas, só para tirar a prova experimentei pagar com cartão de crédito a gasolina em um posto de abastecimento e não tive problemas. Como falei, perto dos grandes centros será mais fácil.
- No Chile foi onde percebemos ser mais tranquilo utilizar cartão (VTM ou de crédito), não sei se por sorte ou de fato, pelo menos, no primeiro caixa eletrônico onde tentamos fomos bem sucedidos, apesar da surra que levamos para aprender a operar a máquina (na cidade de Arica). Mas, também foi a única vez que o fizemos, pois, como lhe falei, andávamos mais com dinheiro em espécie.
- Na Argentina, também será mais tranquilo utilizar cartão, à exceção das pequenas localidades, como acontece até no Brasil. Porém, nunca deixe de estar com algum dinheiro para, pelo menos, um dia e uma noite de viagem. O único local onde tiramos dinheiro na Argentina foi na saída da cidade de Posadas, em direção para o Brasil, antes da primeira praça de pedágio (Nuuhhh! Essa foi mais precisa que GPS... rsrsrs! Acho que isso não ajuda muito). Infelizmente, não sei precisar o local exato. Todavia, repetindo, nos grandes centros é cheio de lugares onde é possível sacar dinheiro, basta solicitar informação que não será complicado encontrar.
O que consigo lhe dar como informação é apenas esse nível de detalhamento, pois, como lhe disse, optamos por passar a maior parte do trajeto com dinheiro local nas mãos.
Espero ter ajudado algum bocado! Fique a vontade para perguntar o que quiser.
Abraço!
Gilberto.