Sábado, 07 de setembro de 2013.
De Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia (360 km)
De Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia (360 km)
Brasileiros, vão embora! Aqui não há comida. Bolivianos zombaram de dois motociclistas a 4.400 metros de altitude, em "La Cumbre"... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.
Trajeto do dia:
Trajeto de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia. |
Trajeto detalhado:
Trajeto detalhado de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia. |
Antes de partir
Acordei pelas 06h30 e fui ver se o Pedro já estava acordado. Em seguida, terminei de organizar minha bagagem e, enquanto ele ainda arrumava suas coisas, saí para tentar achar alguma lan house (estabelecimento que disponibiliza computadores para acesso à internet) aberta para enviar notícias sobre como estávamos. O Pedro também me pediu para imprimir sua entrada para Machu Picchu, mas, na lan house não havia impressora.
Feirinha na rua em Quillacollo / Cochabamba. |
Voltando para hotel após imprimir o boleto turístico de Machu Picchu. |
Então, fui procurar uma farmácia aberta para esclarecer se o remédio que compramos na noite anterior, contra o mal da altitude, daria sonolência caso necessitássemos tomá-lo. Fui informado de que não, pois, também contém cafeína. Segundo a funcionária da farmácia, a indicação era tomar uma pílula antes de subir a cordilheira, e outra, após estar em La Paz.
Típica farmácia boliviana. |
Voltei para o alojamento e preferimos deixar a impressão do ingresso de Machu Picchu para depois. O Pedro comentou que já havia saído mais cedo e encontrado o comércio ainda fechado.
Em seguida, retiramos as motos do hall de entrada do hotel e as colocamos na calçada do albergue, a fim de ficar mais fácil a montagem dos alforges. Fomos alertados pela funcionária de que não deixássemos as motos sozinhas, sob pena de termos algum item furtado, o que somente reforçou nosso hábito de deixá-las sempre com um de nós como vigia. Dessa forma, enquanto eu buscava algo no quarto, o Pedro esperava junto às motos, e vice-versa.
Pedro lubrificando a corrente de sua moto. Foto cedida pelo Pedro. |
Já prontos, saímos umas 8h.
Prontos! Rumo a La Paz / Bolívia. |
Parada estratégica
Pouco tempo após sairmos de Quillacollo, em uma parada de pedágio, ao tentar fechar o zíper da minha jaqueta, a alça que o prendia arrebentou e saiu na minha mão. Fiquei chateado e preocupado, pois, a jaqueta havia ficado entreaberta e dali para frente só iria esfriar. Após travar uma dura batalha, consegui encaixar a alça no casaco.
Parada no pedágio para arrumar problema com a jaqueta. |
Meninos organizando a fila do pedágio. |
Bela paisagem a caminho de La Paz / Bolívia. Foto cedida pelo Pedro. |
Pedro parou para me esperar enquanto eu estava no pedágio. Foto cedida pelo Pedro. |
Pedro voltando para verificar o motivo da minha demora.Foto cedida pelo Pedro. |
Parada estratégica para comprar água.Foto cedida pelo Pedro. |
Segui viagem e, próximo dali, o Pedro havia parado para me esperar. Aproveitamos para comprar água e repor o estoque.
Parada no caminho para La Paz / Bolívia.Foto cedida pelo Pedro. |
Parada de caminhoneiros no caminho para La Paz / Bolívia. |
Hidratação. |
Em meio aos diversos tipos de
bebidas vendidas pelo estabelecimento, vimos um que nos chamou atenção:
uma garrafa pet de "Energy Coca", um tipo engarrafado de chá de coca.
Como não iríamos tomar, sem necessidade, o remédio contra o mal da
altitude, então, resolvemos experimentar o tal chá. Ao tomar o primeiro
gole, percebi que era meio amargo. Confesso que o chá não tinha um gosto muito amigável.
Energético para encarar os mais de 4.000 metros de altitude. |
Enfim, como grandes
altitudes nos aguardavam, mesmo sem saber se esse chá traria algum real benefício
contra os efeitos da altitude elevada, resolvi insistir e tomar mais um
ou dois copos. Também guardei o restante para ir tomando no caminho.
Para o alto e avante
Algumas belas imagens registradas pelo caminho:
Escada de gigantes moldada na montanha. |
O abismo é logo ao lado. |
Vá devagar nessa curva. Foto cedida pelo Pedro. |
Após a cidade de Parotani / Bolívia, onde
teríamos pernoitado não fosse a falta de hotel, começamos a subir a
serra. A atenção foi redobrada porque, já no começo, observamos muitos
animais na estrada.
Cuidado com os animais na estrada. |
Deu a louca nos bichos. |
Outras paisagens bonitas:
Bela cadeia de montanhas. |
Vendo a continuação da estrada do outro lado do vale. |
Vale profundo. |
Vimos muitos vilarejos na beira da estrada.
Muitos vilarejos ao longo do caminho. |
Em alguns pontos, fomos obrigados a trafegar na contramão, por causa das péssimas condições da estrada.
Muitos buracos na estrada. |
Também, por umas três ou quatro vezes, precisamos esperar na parada obrigatória, devido às obras de manutenção que eram realizadas na estrada.
Parada obrigatória subindo a serra. Foto cedida pelo Pedro. |
Em uma parte de descida, havia essa área de escape para caminhões.
Área de escape para caminhões. |
E mais alguns animais na pista, após uma curva.
Lhamas na subida da serra de La Paz. |
Nas alturas
Passamos pelo ponto mais alto da
serra, “La Cumbre”, onde vimos placa indicativa de 4496m de altitude.
Como estávamos com o cronograma apertado, por causa dos desleixos dos
primeiros dias na Bolívia, não parei. Acho que o Pedro ficou meio bravo,
pois, queria ter tirado fotos.
Nas alturas. La Cumbre. |
Depois
disso, combinamos que quem estivesse atrás, e quisesse parar para algo
em específico, deveria reduzir a velocidade demonstrando sua intenção de
parar. Assim, aquele que estivesse à frente, deveria estar atento ao
retrovisor, constantemente, a fim de perceber a parada de quem vinha
atrás. Disse para ficar despreocupado porque ainda chegaríamos a uma
altitude tão ou mais alta quanto a alcançada até agora. Um pouco mais à frente, parada para abastecer o tanque da moto com a gasolina do galão reserva.
Reabastecimento na beira da estrada. |
Pedro reabastecendo no acostamento. |
A próxima paisagem é curiosa, pois, apesar de estarmos em uma região montanhosa, chegamos em uma planície enorme na qual só pudemos avistar montanhas ao longe, onde a vista quase não as alcançava.
Grandes retas no alto dos Andes. |
Vamos sair logo daqui
Já estávamos com fome e quando começamos a procurar algum restaurante para saciá-la nos ocorreu uma
situação engraçada e, ao mesmo tempo, deprimente: após pararmos em um restaurante que estava aberto (pois, já eram umas 14h), entramos e escolhemos uma
mesa. Antes mesmo de nos sentarmos, fomos abordados pela fisionomia
séria e carrancuda de uma senhora, já de mais idade, que nos perguntou
se éramos brasileiros. Ao fazermos sinal de confirmação, ela iniciou uma
ladainha, nos deu as costas e foi atender alguns bolivianos que já
estavam sentados em outra mesa.
Em seguida, sem nos dar a menor atenção, voltou para a cozinha falando rápido um monte de coisas que não entendi... parecendo resmungar. Ela discursava incessantemente e nós, sem sabermos o que fazer, escutávamos seu falatório ressoando lá de dentro da cozinha. Enquanto isso, já assentados, entendíamos bem pouco do que ela dizia.
Repentinamente, a velha, ao voltar da cozinha, e agora falando diretamente para nós, sem nenhuma possibilidade de eco ou anteparo que nos confundisse a audição, soltou uma frase que nos tocou com perfeito entendimento:
"Brasileños, no hay comida!"
Os bolivianos deram algumas risadas e nós, imediatamente, nos levantamos e saímos. Logo pensei:
"Vou sair logo porque, por essas bandas, não devem gostar de brasileiros e vamos é apanhar daqui a pouco.
Em seguida, sem nos dar a menor atenção, voltou para a cozinha falando rápido um monte de coisas que não entendi... parecendo resmungar. Ela discursava incessantemente e nós, sem sabermos o que fazer, escutávamos seu falatório ressoando lá de dentro da cozinha. Enquanto isso, já assentados, entendíamos bem pouco do que ela dizia.
Repentinamente, a velha, ao voltar da cozinha, e agora falando diretamente para nós, sem nenhuma possibilidade de eco ou anteparo que nos confundisse a audição, soltou uma frase que nos tocou com perfeito entendimento:
"Brasileños, no hay comida!"
Os bolivianos deram algumas risadas e nós, imediatamente, nos levantamos e saímos. Logo pensei:
"Vou sair logo porque, por essas bandas, não devem gostar de brasileiros e vamos é apanhar daqui a pouco.
E
quando já estávamos fora do estabelecimento, como se quisessem se
divertir conosco (imagino), alguns dos bolivianos bateram no lado de dentro da janela
para chamar nossa atenção e fizeram sinais para que voltássemos. Tão
logo percebi as fisionomias risonhas, disse ao Pedro que eu não
voltaria. Preferia ficar sem comer a pagar para ver em quê aquela
situação resultaria.
Após
andarmos por mais uns 30 ou 40 minutos, paramos para almoçar em um restaurante com melhor estrutura.
É hora do almoço. |
O prato escolhido não poderia ser melhor, e mais apropriado, para a temperatura fria em que estávamos: sopa!
Sopa quente para aquecer o corpo. |
A sesta é na estrada
Um caminhão tombado a poucos km do restaurante em que almoçamos.
Acidente grave de caminhão. |
Uma bela paisagem. Onde estão as montanhas?
Retas enormes na Cordilheira dos Andes. |
Houve muitos desvios na estrada, nos locais em que a via principal era reparada.
Faltando asfalto em alguns pontos da estrada. |
Realmente, era necessário algum reparo.
Estrada com piso bastante irregular. |
Rodados alguns km depois do almoço,
o Pedro comentou ter tido alguma sonolência, entretanto, não soube
dizer se foi causada pelo almoço ou consequência dos efeitos da
altitude.
Perto
de La Paz, foi minha vez de ter uma leve sonolência e pressão na
cabeça, que passou rápido. De minha parte, tive certeza de ter
acontecido por causa da subida, pois, acontecera perto do fim da tarde,
após passado um bom tempo do horário em que almoçamos. No mais, não
sofremos nada além disso. Como essas sensações tinham passado, preferi
não tomar o remédio contra o mal da altitude.
Estava
bastante frio e também ficamos preocupados sobre como faríamos para nos
locomover em La Paz, pois, a cidade é muito grande e não poderíamos
contar com a ajuda do GPS que, infelizmente, não voltou a funcionar
depois do "Terremoto em Cochabamba" (leia mais sobre o relato do Dia 08 - Terremoto em Cochabamba).
A conquista de La Paz
A
cidade de La Paz fica num vale, entre montanhas, e nossa chegada foi
pela Ruta Nacional 1, tangenciando o aeroporto, Pela mesma estrada em
que vínhamos andando já "caímos" na Autopista La Paz - El Alto. A partir
de então, a chegada até o centro foi tranquila, pois, bastava seguirmos
pela autopista até o seu final.
Chegando em La Paz. |
Olha La Paz lá em baixo. |
Ao chegarmos na região central,
efetivamente, a situação se complicou. Foi difícil achar um hotel para
ficarmos, pois, havia muita movimentação de veículos por causa do fim do
expediente comercial. Por fim, conseguimos encontrar um hotel, de
aparência muito boa, que fica exatamente em frente à "Cerveceria
Nacional Boliviana".
Vista noturna de La paz. Cervejaria boliviana. Foto cedida pelo Pedro. |
Ficamos mais de uma hora tentando
encontrar algum hotel com "cochera" (garagem), que não fosse muito
custoso e ainda tivesse internet sem fio (Wifi - que, infelizmente, não
conseguimos utilizar por causa do sinal fraquíssimo que chegava no
quarto). Terminamos por entrar na garagem do hotel já à noite, por não
conhecermos a cidade e pela movimentação difícil no seu trânsito
caótico, que era regado a buzinaço e desrespeito mútuo entre os motoristas .
Efeitos da altitude
Havíamos
parado numa rua meio inclinada ao lado do hotel e, após ter acertado os
trâmites para nossa estadia no hotel, fui manobrar a moto para entrar
na garagem quando, num descuido furtivo, deixei-a tombar. O Pedro ajudou
a levantá-la. Como a rua estava muito movimentada, achei melhor dar a
volta no quarteirão para entrar com mais facilidade na garagem.
Por um descuido a moto vai ao chão. |
Já dentro da garagem do hotel,
descarreguei a bagagem e precisei subir e descer duas vezes até o quarto
em que ficaríamos, no quarto andar. Pegamos elevador do térreo até o andar em que ficamos, mas, da garagem até o elevador
do andar térreo foi um sofrimento para carregar os alforges. Eu chegava
"bufando" no quarto.
Foi difícil subir as escadas. Foto cedida pelo Pedro. |
Cinco minutos para tomar fôlego. foto cedida pelo Pedro. |
Acertos finais
Depois de guardar tudo ainda
precisei descer, novamente, para dar manutenção na moto, pois, o Pedro
me avisou que a lanterna traseira tinha queimado e precisava ser
trocada. Depois, um pouquinho de graxa para tirar graxa.
Limpando as mãos depois da manutenção na moto. Foto cedida pelo Pedro. |
Com tudo arrumado, fomos jantar num restaurante na própria esquina do hotel.
Já era hora de forrar o bucho. |
Na volta verificamos o trajeto de saída, do dia seguinte, para a Ruta Nacional 3 que nos levaria até a cidade de Coroico (passando pela estrada da morte).
Acomodações (foto tirada na manhã seguinte):
Quarto do hotel em La Paz. |
Dicas de viagem
- A subida da serra de La Paz é forte. Será uma subida dos 2000m para os 4300m em uma curta distância. Se você for uma pessoa mais sensível às mudanças de altitude, é recomendável que faça esse percurso de forma mais devagar. Também é fácil encontrar comprimidos contra o efeito da altitude, porém, converse com seu médico antes, a respeito de tomar ou não esse tipo de medicação.
- Ao longo da subida da serra há muitos animais na estrada, principalmente cachorros. É preciso tomar muito cuidado, pois, ficam à beira da pista.
SOBRE O AUTOR
Que aventura!!
ResponderExcluirOpa! Foi bem legal mesmo! Continue acompanhando.
ExcluirObrigado pela visita!
Muito bom o blog!!
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